A receita de Machado de Assis é infalível: traição,
pessimismo, triângulos amorosos, ironia. Digno de qualquer produção
contemporânea, “Dom Casmurro” conta a história de Bentinho, Capitu e Escobar. Triângulo
amoroso, que se torna mais interessante pela incerteza da traição. Por ser em
primeira pessoa, tem todo o peso da imparcialidade, de ser narrado por um homem
fraco, inseguro, desconfiado, que conta os fatos de acordo com sua visão,
leitores desavisados condenarão a esposa, mas é preciso um segundo olhar, uma
análise mais cuidadosa desse narrador/personagem, que transtornado pela ideia
de traição, descreve uma Capitu dissimulada.
Obsessivo com a
ideia de traição, Bentinho torna-se um homem amargo, rancoroso, sem amigos,
incapaz de amar o próprio filho. Quando o amigo, e possível amante, Escobar,
morre no mar, Capitu se descontrola e chora muito, fato que, para o
protagonista, torna-se a certeza do adultério. A dúvida, que se instala também
nos leitores, é a grande protagonista, pois se houvesse a certeza do
envolvimento entre Escobar e Capitu, o livro não seria uma das melhores
histórias do século XX.
Considerado um dos melhores romances de Machado, em
sua segunda fase, Dom Casmurro, sobrepõe-se ao momento histórico e exerce um
fascínio permanente, pois pela trama em que são envolvidos os personagens
tornou-se uma obra atemporal.
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